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O Equinócio da Primavera
Posted 24/09/2012
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“O que está faltando nessa história é o choro. Você precisa chorar” – disse a psicanalista.
A sessão encerrou e Maria ainda ficou ali, em silêncio, pensativa, concordando com o que acabara de ouvir. Faltava extravasar fisicamente aquele maremoto que há semanas passeava pelo seu corpo e ameaçava afogá-la a qualquer momento.
Maria só saiu do consultório porque foi gentilmente expulsa pela analista, e ainda assim foi pra casa pensativa, sentindo as ondas irem e voltarem no seu estômago.
Tentou ajuda de filmes, músicas, lugares, qualquer coisa que a fizesse lembrar daquela história e pudesse provocar o vômito que era necessário pra se livrar de uma vez daquela azia.
Nada funcionou. E o pior era que em determinados momentos o mar se acalmava, e aquela sensação do vai e vem leve da marola a tomava, a deixava rendida e entregue aos encantos de Poseidon.
Naquela mesma noite da sessão de psicanálise, quando aquele dia perturbador já estava próximo de acabar, veio a oportunidade daquele choro finalmente sair.
No meio de uma conversa com meias-verdades, ela foi acusada de coisas que não fez, se sentiu incompreendida, falou só metade do que queria dizer, e descobriu sentimentos nela que a incomodou, porque ela acreditava que não tinha o direito de senti-los…Não por ele, não naquele momento. Ela se viu numa DR de uma relação que não existia. Ela se culpou, ela o culpou, ela se revoltou e ele fez birra. Ele encerrou a discussão no GRITO: CHEGA!
Pronto! A cena estava feita, parecia que cada detalhe tinha sido desenhado minuciosamente para que o desejo da pscicanalista se realizasse.
Maria então sentiu um tsunami se formando no peito, que subiu violentamente pela garganta e quando foi se libertar nos olhos, as lágrimas endureceram. Maria forçou mas não conseguiu chorar. Não conseguia também entender. . .Não entendia nada. Nem o que sentia, nem a discussão que acabara de ter, e nem porque prendia esse choro, como se com isso pudesse prolongar aquela história que já começou com prazo de validade vencido.
Com tudo engasgado e misturado dentro dela, Maria adormeceu e sonhou com ele. Acordou exatamente às 11h39 do dia 22 de setembro de 2012, no Equinócio. Sorriu para o universo agradecendo a resposta. Levantou-se, abriu a janela, viu a primavera florescendo, sentiu o vai e vem das ondas calmas se movimentando em seu peito, sem pressa, no ritmo da primavera. E foi assim, enquanto sentia a brisa calma no rosto, e ouvia os pássaros brindando a estação que chegara, que as lágrimas rolaram no rosto de Maria discretamente, sem dor, sem pensar em nada, só com a chegada da Primavera.